Carlos José Rolim De MelloCarlos José Rolim de Mello, um dos principais sócios do Machado Meyer Sendacz e Opice, vai deixar o escritório depois de 25 anos para abrir sua própria banca.

Exceto por sete anos passados no Tozzini Freire e em dois escritórios americanos — o Skadden Arps e o Chadbourne & Parke — Mello construiu sua reputação no Machado Meyer, onde começou com 19 anos.

Tido por concorrentes como ‘um dos maiores captadores do escritório’ e responsável pelas áreas de M&A e private equity, participou de negócios como a venda da área de lácteos da BRF para a Parmalat e a venda da Ipiranga para a Ultrapar.  Ele é particularmente próximo de clientes como o BTG Pactual, TAM, Credit Suisse e o empresário Marcelo Limírio, que vendeu a Neoquímica para a Hypermarcas.

Um advogado menos convencional conhecido por gestos dramáticos e personalidade forte — ao estilo de um Chico Müssnich e um Syllas Tozzini — Mello foi só elogios para a casa que está deixando:  “A casa é maravilhosa e tem um futuro brilhante com os sócios mais novos,” disse ao Brazil Journal.

“Pelo fato de ser sócio de um grande escritório, eu estava começando a não ter mais condições de atender os clientes da forma que eu me acostumei a fazer,”  disse. “Há um ano eu abandonei as funções administrativas no escritório e fiquei apenas como advogado; dei a eles inclusive a oportunidade de decidir quando seria melhor anunciar minha saída.”  Seu último dia no escritório será sexta-feira.

 A partida de Mello é apenas a mais recente defecção para um escritório que já se acostumou a uma diáspora de talentos ao longo dos últimos anos, mas que se mostrou resiliente em grande parte graças ao prestígio e ascendência de seus fundadores, particularmente de José Roberto Opice, hoje com 70 anos.

Advogado lendário, Opice (pronuncia-se: ‘ópice’) assessorou a Interbrew na fusão com a Ambev, aconselhou o Governo na privatização da Vale, participou da venda do Bamerindus ao HSBC, e orientou os credores da Globo na restruturação da dívida da empresa.

Há dois anos, ele disse à revista GQ que estava preparando sua aposentadoria para dentro de dois anos. “O advogado de negócios tem um limite de idade,” disse.  Pelo jeito, o pijama vai ter que esperar. José Roberto Opice

Cisões e debandadas em massa são parte da vida e do folclore das grandes bancas de advocacia, mas, no Brasil, tendem a ser ainda mais comuns.  Nos EUA, por exemplo, é muito difícil para uma nova banca se estabelecer e atender grandes corporações se não tiver um grande nome na sua retaguarda.  Isso não acontece no Brasil, onde a concorrência se dá, basicamente, em cima de duas variáveis —  preço e especialização — abrindo espaço para advogados ainda jovens ousarem abandonar o ninho.

“Como o número de clientes é limitado, quando um escritório fica muito grande e vem uma crise, fica difícil as pessoas crescerem,” diz um executivo que lida com várias firmas. “Os mais jovens, que têm uma relação mais próxima com os clientes, tomam coragem e montam seu próprio negócio.”

Na defecção mais épica, Luis Antonio de Souza e Maria Cristina Cescon deixaram o Machado Meyer numa sexta-feira de 2001, e, na segunda seguinte, já atendiam no Souza Cescon, hoje maior do que o próprio Machado.

Em 2006, Fernando Shayer, então tido como um protégé de Opice, trocou o Machado Meyer pela Tarpon Investimentos, uma gestora de recursos. Ele estava no escritório há 10 anos — e, como Mello, fazia M&A, mercado de capitais e private equity.

Outros escritórios também tiveram suas baixas.

No fim de 2010, o Mattos Filho perdeu 17 advogados de uma só vez para o que era então um pequeno concorrente, o Lefosse Advogados. O cabeça da diáspora foi o outro ‘Carlos Mello’ do mercado, que tirou do Mattos Filho clientes como a operadora TIM, a holding de alimentação dona do Viena e Frango Assado, e a empresa de shoppings Sonae Sierra.

Em 2012, advogados que trabalhavam no Machado Meyer e no Souza Cescon juntaram-se para criar o Stocche, Forbes, Padis, Filizzola e Clápis.

O próprio Machado Meyer nasceu de uma dissidência do Pinheiro Neto quando, em 1972, Ernani Machado e mais quatro advogados abriram sua nova banca.  A sede ficava num apartamento, e o telefone era emprestado da vizinha. “Não tínhamos um único cliente”, Antônio Corrêa Meyer certa vez contou à EXAME. “Ficávamos jogando xadrez e pebolim a tarde inteira.” 

No mercado, a dúvida agora é se Mello vai tirar clientes do Machado Meyer.  “Não existe cliente cativo; existem ‘casos sob sua responsabilidade’,” diz Mello. “Eu não pretendo levar caso algum, mas os clientes são livres para fazer suas escolhas para novos casos.”

Com a saída de Mello, devem ganhar mais espaço no Machado Meyer os advogados José Virgílio Enei, sócio da área de infraestrutura; José Prado Júnior, sócio de infraestrutura que atua muito em M&As; Nei Zelmanovits, sócio da área de mercado de capitais e bancária; e finalmente Tito Amaral de Andrade, sócio da área de antitruste.

Mas, na opinião de um ex-banqueiro que conhece bem o escritório, “o Dr. Opice sempre foi a grande figura do Machado Meyer, e pelo jeito continuará sendo.”