A Netshoes se tornou a primeira empresa brasileira de ecommerce a ser listada na Bolsa de Nova York, mas conseguiu apenas metade do valor de mercado que ambicionava quando começou a conversar com investidores.

A ação foi oferecida ao mercado numa faixa entre US$18 e US$ 20 e precificada no piso daquele intervalo, conferindo à companhia fundada por Marcio Kumruian um valor de mercado de US$ 556 milhões na hora do ‘pricing’. O múltiplo foi em linha com o pago pelos gestores de private equity que investiram na companhia há dois anos.

Mas depois de esperar anos para ir para a Bolsa, a Netshoes deu azar no dia da estreia. A ação abriu para negociação ontem de manhã, em meio a um noticiário político que pressionou os preços de todos os ativos brasileiros. No final do dia, o papel já valia 10% menos.

“Foi o IPO possível,” disse uma fonte próxima à empresa.

Segundo fontes envolvidas na operação, as ordens de compra chegaram a cobrir a oferta em mais de 5 vezes. (Parte disso, claro, é o chamado ‘padding’: antecipando que haverá rateio, muitos investidores colocam ordens bem maiores do que realmente desejam. Subtraindo este efeito, as fontes estimam que a oferta foi cerca de 3 vezes coberta.)

Apesar da demanda aparentemente avassaladora, a maioria das ordens — incluindo a maior delas, da gestora americana T. Rowe Price — era a US$ 18, o piso da faixa.  A Netshoes e os bancos decidiram ancorar a oferta ali, “de baixo pra cima, já que este era um investidor grande, de longo prazo e que não venderia logo,” nas palavras de um banqueiro.  

Quase 150 investidores colocaram ordens de compra, mas a alocação foi concentrada: quase 50% da oferta foi alocada aos cinco maiores investidores, e a maior parte das ordens veio de fundos globais especializados em tecnologia. 

Três gestores brasileiros participaram marginalmente, e o interesse local foi mínimo: um sinal do ceticismo por parte de investidores que assistem a B2W —  a maior empresa de ecommerce do País — queimar caixa desde sempre. 

“Meu problema com essa oferta é que, mesmo no ‘vertical’ da Netshoes que já é maduro — a venda de produtos esportivos — a empresa ainda não ganha dinheiro, só empata,” diz um gestor que ficou de fora. “Então fica difícil imaginar o potencial de replicar algo bom que ainda não aconteceu.”

A carnificina de ontem ‘limpou’ a base acionária. Cerca de 68% da oferta trocou de mãos logo no primeiro dia, o equivalente a 19,5% do capital da companhia, o que abre a perspectiva de que o papel se recupere depois do solavanco inicial.

Sem contar a comissão dos bancos, a Netshoes levantou US$ 148,5 milhões. Os recursos serão usados para melhorar o perfil de endividamento e ajudar a empresa a crescer.

Os bancos coordenadores foram Goldman Sachs, JP Morgan, Bradesco, Allen & Co. e Jefferies.  O agente estabilizador da operação — cuja obrigação é reduzir a volatilidade do papel nos primeiros dias de negociação — é a Goldman.

Os sócios da Netshoes incluem o GIC, Tiger, Temasek, ICONIQ Capital, Kaszek Ventures, IFC Venture Capital e o Riverwood Capital. Em 2014 e 2015, eles injetaram cerca de US$ 215 milhões na empresa.

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