João Alves de Queiroz FilhoO telefone da família Gonçalves não parou de tocar hoje cedo, com os bancos de investimento se oferecendo para coordenar a venda de ações que a família possui na Hypermarcas.
Os membros da família — Marcelo Henrique Limirio Gonçalves, Cleonice Barbosa Limirio Gonçalves, Marcelo Henrique Limirio Gonçalves Filho e Luana Barbosa Limirio Gonçalves de Sant’Anna Braga — anunciaram hoje que desvincularam todas as suas ações da Hypermarcas do acordo de acionistas da companhia, o que os deixa livre para vender a posição a qualquer momento.
 
A família — que se tornou sócia da Hypermarcas ao vender a Neoquímica no final de 2009 — é dona de 35 milhões de ações, que, ao preço de R$ 28 em que a ação negociava ontem, valiam quase R$ 1 bilhão.
 
Com a perspectiva de uma oferta, as ações da Hypermarcas caem 6% no início da tarde.
 
No mercado, a expectativa é que a Hypermarcas coloque seu caixa para trabalhar e recompre boa parte das ações.  Procurada, a companhia não quis se pronunciar.
 
A Hypermarcas fechou o segundo trimestre com um caixa líquido de R$ 150 milhões.  Em outubro, a empresa esperava receber cerca de R$ 570 milhões da venda de seu negócio de camisinhas e lubrificantes para a Reckitt Benckiser, o que eleva sua posição de caixa pro forma para cerca de R$ 720 milhões, o suficiente para comprar a maior parte da posição.
 
“A saída dessa família é boa para a empresa; eles não agregavam nada na gestão,” diz um gestor.  “Isso vai pesar no papel no curto prazo, mas para investidores de longo prazo é uma boa notícia. A companhia hoje tem muito caixa e o seu maior dilema é como usá-lo; o melhor uso é a recompra.”
 
A Hypermarcas terá que dar muitas explicações ao mercado se não usar seu caixa para demonstrar confiança na ação.  Já para os Gonçalves, seria contraproducente demorar muito para vender o lote, já que o desconto pela oferta está entrando rapidamente no preço do papel — isto é, o estrago já está feito.
 
O anúncio da saída dos Gonçaves do grupo de controle vem num momento em que a ação da Hypermarcas já havia se recuperado de sua dramática queda no fim de junho, quando um ex-executivo da empresa confessou em delação premiada ter pago R$ 30 milhões em propina a políticos do PMDB.
 
Para muitos gestores, a tese de investimento na Hypermarcas é simples:  ficar investidos numa geradora de caixa livre enquanto esperam o dia em que o controlador João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, venderá a empresa a um laboratório internacional.  Com base nos múltiplos de outros negócios no setor, alguns gestores estimam que um investidor estratégico poderia pagar pela Hypermarcas o dobro de seu valor de mercado atual.