Em sua estreia eleitoral, o Partido Novo elegeu vereadores em quatro das cinco cidades em que apresentou candidatos, e recebeu mais de 300 mil votos.

O Novo emplacou vereadores em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.  A única capital onde o partido concorreu mas ficou de fora foi Curitiba.

Em São Paulo, a sigla obteve 140.769 votos, à frente de partidos como o PP, PDT e PC do B.

O Novo foi fundado em 2011 mas só obteve seu registro no TSE em setembro de 2015 — um processo burocrático e penoso que envolveu a fundação de nove diretórios estaduais e a coleta de quase 500 mil assinaturas apoiando a criação do partido.  O Novo ocupa um nicho no qual partidos tradicionais como PSDB e DEM deixaram a desejar:  a defesa do livre mercado e a redução do papel do Estado na economia.  O partido defende que o Estado limite sua ação a setores básicos como sau?de, educac?a?o, seguranc?a e infraestrutura, para que estes serviços sejam oferecidos com qualidade.

Seus filiados são empresários, médicos, advogados e outros profissionais do setor privado que, apesar de desiludidos com a política, acreditam que ela só vai mudar com o engajamento dos que querem a mudança.

O Novo não usa dinheiro público por ser filosoficamente contra a existência do fundo partidário. Em vez disso, o partido se financia com uma mensalidade de R$ 26 paga por todos os seus filiados, além de levantar dinheiro em jantares e eventos.

“Nossa expectativa era de eleger [vereadores] em duas cidades, mas era muito difícil prever, porque não existe pesquisa para vereador,” diz Patricia Vianna, do comitê financeiro do Novo. “Cada candidato fez a sua campanha: foi pouco braço e pouco dinheiro.   Os diretórios fizeram algumas iniciativas de captação para beneficiar não apenas um, mas todos os candidatos: o partido pagou o advogado e o contador de todos, mas, fora isso, cada candidato se financiou.”

O Novo teve candidato a prefeito apenas no Rio, onde Carmen Migueles teve 38 mil votos.  Em outras cidades o partido, não encontrou ninguém que se sentisse confortável em apoiar.

Diferentemente de outros partidos, o Novo é rigoroso na escolha de seus candidatos.   O partido começou um processo seletivo em abril, pedindo a todos os interessados em se candidatar pelo partido que enviassem seus currículos e respondessem a um questionário online.  O questionário avaliava o conhecimento do pré-candidato sobre as ideias e valores do Novo, bem como seus conhecimentos sobre o estatuto do partido.  

Cerca de 600 pessoas se mostraram interessadas.  Na etapa seguinte, o partido pediu que cada interessado gravasse um vídeo explicando sua plataforma, em parte para medir a capacidade de expressão dos candidatos.

O processo terminou com uma entrevista feita pelos três membros da administração do partido, que analisaram aspectos como o histórico de vida, o nível de engajamento do pré-candidato com sua comunidade, sua capacidade de empreender e de trabalhar em equipe.  As avaliações foram tabuladas e as pessoas foram selecionadas.

Em Porto Alegre, o Novo elegeu Felipe Camozzato — o quinto vereador mais votado entre os 36 eleitos. Camozzato, de 28 anos, é diretor de uma empresa de serviços ambientais. É formado em administração pela UFRGS e fez pós-graduação em ‘liderança competitiva global’ na Georgetown University, de onde voltou no início do ano.

Em Belo Horizonte, o Novo elegeu o advogado Mateus Simões, sócio do escritório Portugal Vilela Almeida Behrens, professor universitário há 12 anos, e procurador concursado da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Ele tem 35 anos.

No Rio, elegeu Leandro Lyra, de 24 anos.  Ele é engenheiro eletricista formado pelo IME e mestre em finanças pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), onde está terminando seu doutorado em Economia Matemática. Lyra já serviu o Exército como oficial e trabalhou em consultoria estratégica.  Com 30 mil votos, foi o mais votado entre os neófitos, numa casa que contará com a perspectiva ímpar de nomes como Carlos Bolsonaro (eleito para seu quinto mandato consecutivo) e César Maia.

Em São Paulo, a eleita foi a advogada Janaína Lima, cuja história de vida é diferente de boa parte dos fundadores do Novo. Lima nasceu no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, autoalfabetizou-se aos cinco anos de idade e é pós-graduada em direito público.  Ao contrário de outros eleitos, Lima já teve experiência no setor público: foi Subsecretária de Juventude e Gerente da Agenda de Desenvolvimento na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo.

Lima tem 32 anos e um filho de dois meses, provando que, quando o brasileiro quer mesmo participar da política (em vez de apenas reclamar dela), arranja tempo.  Ela teve 19.425 votos.

Todos os candidatos do Novo se compremeteram a cortar suas ‘verbas de gabinete’ em 85% e a reduzir o número de assessores que a Câmara de Vereadores lhes faculta.  No Rio, o eleito pelo Novo vai usar apenas 6 dos 20 assessores a que teria direito; em São Paulo, vai usar 6 de 17.

O Presidente do Novo, João Dionisio Amoedo, comemorou com moderação. “A ideia de um Estado focado nas áreas essenciais está se disseminando, até pelos resultados ruins do modelo atual, mas a gente precisa acelerar isso e ainda há uma longa jornada pela frente.”