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O empresário Edson de Godoy Bueno, um self-made man que depois de uma infância humilde construiu um império de saúde ao redor da Amil, morreu de um ataque cardíaco nesta terça-feira.Edson Bueno

Bueno estava em Búzios, onde passara o fim de semana com a família.  Esta manhã, jogando tênis, sofreu um infarto agudo.

Ele tinha 73 anos.

A morte de Edson — como ele era mais conhecido — marca a saída de cena prematura de um dos empresários mais ambiciosos do País.

Depois de construir a Amil em parceria com sua ex-mulher, Dulce Pugliese, Edson vendeu a companhia para a UnitedHealth em 2012, no topo do mercado, por US$4,9 bilhões. Com a transação, tornou-se o maior acionista individual da UnitedHealth, com pouco menos de 1% da empresa, e passou a integrar seu conselho de administração.

Mas estava longe de se dar por satisfeito.  Usou parte dos recursos para aumentar sua participação na DASA, levando a empresa a um fechamento de capital branco, e continuou dono de uma rede de hospitais, um negócio que concorre com a gigante Rede D’Or.

Amigos, concorrentes e outros participantes do mercado de saúde descreveram Edson como ‘uma alma inquieta’,  um ‘desbravador’, uma força da natureza no mundo do empreendedorismo.

“Ele era um cara que trabalhava 35 horas por dia e ainda ia dormir insatisfeito,” diz um empresário que o conhecia bem. “A obstinação e dedicação dele aos negócios eram incomparáveis.”

Edson de Godoy Bueno nasceu em Guarantã, no interior de São Paulo, numa família humilde.

Perdeu o pai aos cinco anos e foi criado pela mãe.

Relapso nos estudos, repetiu uma mesma série do primário quatro vezes. Sentava no fundo da sala.

“Eu não queria nada, mas minha mãe não desistiu de mim. Essa foi a grande sabedoria dela,” disse certa vez em entrevista a João Dória.

A mãe o pegava pela orelha e o levava para a escola, dizendo: “Nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida, mas você vai estudar!”

A inspiração do caminho a seguir veio do médico da cidade, seu vizinho: o Dr. Moacyr Carneiro Junqueira.  “Ele era um deus na cidade. Ele não cobrava nada de ninguém, porque ninguém tinha dinheiro,”  Edson lembrava em inúmeras entrevistas. (Mais tarde, a filha e o neto de Moacyr trabalharam na Amil.)

O garoto resolveu que queria ser igual ao ídolo. Passou a frequentar sua varanda e se fascinou pela área de saúde. Mas a pobreza era um problema:  “Eu ouvia das pessoas que era impossível. Diziam, ‘Como você vai fazer medicina se você não tem dinheiro nem para comprar comida?’”  Já bem sucedido, contava aquela história para incentivar jovens e funcionários a nunca desistir de seus sonhos.

Nas vésperas de um Carnaval, o garoto foi ao mercadinho local para comprar mantimentos, mas a casa lhe negou crédito: sua mãe estava seis meses sem pagar a conta.

Edson pegou a caixa de engraxate de um amigo e arregaçou as mangas.

Luiz Carlos Trabuco, CEO do Bradesco, disse que “o Brasil perdeu um de seus grandes empresários, daquele tipo cada vez mais raro que consegue construir do nada um gerador de milhares de empregos e de riqueza para o PIB. Eu perdi uma referência de self-made man, além de exemplo de retidão. Era inspiradora a sua capacidade de gestos solidários em qualquer situação. Lamento demais essa perda repentina.”

A escassez da infância não prenunciava a abundância que Edson encontraria nos negócios.

Cursando medicina no Rio, conseguiu um emprego na Casa de Saúde São José, em Duque de Caxias. A clínica ia mal, e em 1971 o dono lhe ofereceu vendê-la, parcelando o valor. Edson e Dulce toparam.  Em 1976, com outros médicos jovens, criaram a Rede Esho (Empresa de Serviços Hospitalares) para administrar três hospitais.

Em 1978, Edson, Dulce Pugliese e colegas fundaram a Amil Assistência Médica Internacional, que se tornaria o maior grupo de medicina privada do País. Edson tinha acabado de passar o bastão da UnitedHealth Brazil para Claudio Lottenberg, que assumiu o posto em dezembro após 15 anos à frente do Hospital Albert Einstein.

Mesmo já adulto, Edson continuou gostando de estudar.  Em 1985, fez parte da 12ª turma do Owner/President Management (OPM), o programa de educação executiva da Harvard Business School, numa época em que poucos empresários brasileiros tinham ligação com Harvard.

Por pouco, não foi colega de Beto Sicupira e Marcel Telles, que fizeram parte da nona e décima turmas, respectivamente.

Edson já sofrera um ataque cardíaco aos 50 anos; na ocasião, colocou um stent.  Aos 60, outro stent.  “Hoje tenho 73 e jogo duas, três horas de tênis, estou bem de tudo, graças a Deus,” disse, em setembro, numa palestra no congresso da Abramge – Associação Brasileira de Planos de Saúde.

Ele deixa sua mulher, Solange Medina, os filhos Camila e Pedro, CEO da Dasa, e Dulce, de quem permaneceu amigo depois da separação.

O corpo será velado amanhã às 11 horas no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo, no Rio. O enterro será às 15 horas no Cemitério de São João Batista.