Ao participar ontem de uma conferência sobre o futuro dos jornais, Jeff Bezos falou sobre o negócio da notícia, mas muitas de suas visões se aplicam a qualquer outro negócio.
 
Como se sabe, além de praticamente inventar o e-commerce com a Amazon, Bezos comprou o The Washington Post por US$ 250 milhões quatro anos atrás — e o jornal, antes moribundo, está bombando.
 
Os comentários abaixo foram organizados e reproduzidos pelo repórter Matt Rosoff, da CNBC, que estava presente ao evento, na Itália.
 
 
Foque nos leitores, não nos anunciantes.
 
“Nós administramos a Amazon e o The Washington Post com uma abordagem básica muito semelhante: tentamos focar no cliente, o que, no caso do Post, significa focar no leitor. À vezes você pode se confundir e focar no anunciante — já que o que os anunciantes querem, é claro, são os leitores — então mantenha as coisas simples e foque no leitor. Se você conseguir focar nos leitores, os anunciantes virão.” 
 
Você não será relevante se ficar encolhendo. 
 
Quando Bezos assumiu o Post, o jornal já tinha um time de tecnologia e uma redação ‘notáveis’, bem como um líder editorial de alto nível [Marty Baron, ex-diretor de redação do Boston Globe que ficou conhecido com o filme ’Spotlight’]. Mas o jornal continuava demitindo gente, e isso não funcionava.
 
“O que eles precisavam era um pouco de fôlego e encorajamento para experimentar e parar de encolher. Você não pode conquistar relevância se ficar encolhendo.” Desde então, o Post contratou cerca de 140 repórteres e expandiu significativamente o time de tecnologia. Em 2016, o jornal voltou a dar lucro, e deve ter outro resultado positivo este ano.
 
“Nós chegamos à rentabilidade pelo caminho do crescimento, em vez do encolhimento.”
 
Não procure um padrinho rico nem espere caridade.
 
Segundo a CNBC, Bezos deixou claro que o Post é administrado como um negócio com fins lucrativos, e que outros jornais não deveriam ficar à espera de padrinhos ricos dispostos a perder dinheiro indefinidamente.
 
“Isso não é um esforço filantrópico. Para mim, eu realmente acredito, um jornal saudável com uma redação independente deveria ser auto-sustentável. E acho que isso é viável. Nós conseguimos isso. O pior que eu poderia ter feito para o Post é ter dito, ‘Não se preocupe com faturamento, [vou dar] tudo o que você precisa, apenas faça o jornal’, porque eu não acho que isso levaria a tanta qualidade quanto uma situação em que há, de fato, restrições.”
 
Ele também disse o óbvio: queixar-se da internet e lamentar a morte dos antigos modelos de negócios não ajudará em nada.
 
“Uma das primeiras regras do mundo dos negócios é que ‘queixar-se não é uma estratégia’. Você precisa trabalhar com o mundo como você o encontra, não como você gostaria que ele fosse.”
 
Use a tecnologia, mas não seja escravo dela. 
 
“Eu nunca pediria nem deixaria que alguém fosse escravo dos dados, mas eu também seria super cético com alguém que não tenha curiosidade sobre os dados”. Segundo a CNBC, Bezos disse que para os dados serem realmente úteis, eles devem ser em tempo real, e não entregues um dia depois.
 
A publicidade sozinha não sustenta o jornalismo investigativo.
 
Bezos acha que a publicidade online, tal como existe hoje, é incompatível com o tipo de jornalismo que o Post quer fazer. Ele foi particularmente crítico em relação à mídia programática, em que os anunciantes compram espaço nos sites usando as plataformas de leilão do Google e Facebook para atingir público específicos. 
 
“Se você quisesse construir um negócio que você pudesse manter apenas com publicidade, especialmente com publicidade programática, você teria que trabalhar no osso; teria que eliminar muitas camadas de edição; não produziria muito material original; reescreveria inteligentemente o material de terceiros, e enfatizaria ter um texto inteligente em vez de material original. [Mas] se você quer fazer matérias investigativas e outros tipos de reportagem que custam dinheiro, você precisa ter um modelo em que as pessoas irão te pagar por isso”.
 
“Esta indústria passou 20 anos ensinando a todo o mundo que as notícias deveriam ser gratuitas. A verdade é que os leitores são mais inteligentes do que isso. Eles sabem que o jornalismo de alta qualidade é caro para produzir, e eles estão dispostos a pagar por isso, mas você tem que pedir que eles paguem.  Nós reforçamos o nosso paywall e, toda vez que fazemos isso, as assinaturas aumentam.”
 
Seu conselho final:  “Quando estiver escrevendo, seja fascinante, esteja certo, e peça que te paguem.”
 
 
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