Não se fala em outra coisa em Hollywood: o apetite voraz da Netflix está mudando a cara da indústria cinematográfica e preocupando os executivos de canais a cabo e dos estúdios. 

O poder de fogo é tanto que John Landgraf, presidente da FX Networks (parte da Fox), alertou para o risco de que a Netflix se torne “um monopólio ao estilo do Vale do Silício” no mercado de entretenimento – como o Google no mercado de busca ou a Amazon no ecommerce.

“Seria ruim para o mercado em geral se uma empresa tivesse uma fatia de 40%, 50% ou 60% do mercado”, Landgraf disse recentemente num evento da Associação de Críticos de TV em Beverly Hills, segundo o The Hollywood Reporter, que dedicou uma longa reportagem à Netflixfobia.

A Netflix investe de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões por ano em conteúdo, seja em produções próprias ou para aumentar sua biblioteca de títulos de outros estúdios. Neste ano, serão mais de 600 horas só de conteúdo original. Para efeito de comparação, a HBO gastará pouco mais de US$ 2 bilhões este ano.

Se, por um lado, o dinheiro novo vem dando impulso a produções que talvez não encontrassem compradores na indústria tradicional (os roteiristas de ‘Stranger Things’, por exemplo, cansaram de dar com a cara na porta), por outro, os concorrentes afirmam que a voracidade da Netflix está inflando os preços e ameaçando seu negócio.

Com um caminhão de dinheiro e um DNA de empresa de tecnologia, a empresa mudou a forma como a banda toca em Hollywood: em suas produções exclusivas, costuma adiantar parte do dinheiro e fechar contratos por duas temporadas para a maior parte das séries. Os estúdios tradicionais são mais cautelosos e normalmente compram apenas a primeira temporada, sem compromisso de renovação.

Além disso, ao contrário dos concorrentes, a Netflix não costuma incluir cláusulas de participação nos lucros em seus programas ou filmes exclusivos — o chamado backend, no jargão do setor. Em vez disso, paga um prêmio substancial sobre o custo de produção.

Como a empresa não divulga a quantidade de pessoas que assistem cada título, é difícil saber se o acordo é mais vantajoso para quem produz do que o lançamento convencional na TV ou no cinema.

Mas esta política vem incomodando desde produtoras até os agentes dos atores, acostumados a contar com uma receita adicional e previsível vinda de programas que acabam por se tornar grandes sucessos, aponta o The Hollywood Reporter.

A Netflix tem 83 milhões de assinantes.  Seu faturamento passou de US$ 1,2 bilhão em 2007, quando seu serviço de streaming foi lançado, para US$ 6,8 bilhões no ano passado.

A grande questão agora é até onde vai seu fôlego para investir. O maior risco parece ser que a empresa se enforque com a própria corda: para manter o ritmo atual de novas produções, terá que aumentar o valor das mensalidades, afastando os clientes mais sensíveis a preço.