9936 32063eb8 67a0 0009 0000 f93a53068746Em meio à euforia da Bolsa americana com a eleição de Donald Trump, a equipe de gestão do fundo Verde — o maior e mais bem-sucedido hedge fund do País — cortou pela metade sua alocação em ações globais, em parte preocupada com o estrago que o populismo econômico pode fazer na economia global.

Na carta mensal enviada aos investidores hoje à tarde, a equipe diz: “Os mercados após a eleição se encantaram com a agenda econômica republicana, focando exclusivamente no corte de impostos, no estímulo a investimentos em infraestrutura, e na suposta leniência regulatória do novo governo.”  Este, segundo a gestora, é o ‘good Trump’.

“O que (aparentemente) está sendo esquecido são os enormes riscos de conflitos comerciais, de reversão de imigração, além de problemas geopolíticos (o recente caso do telefonema para a líder de Taiwan é emblemático) que o novo presidente representa.”  Este é o ‘bad Trump’.
Para a equipe do Verde, liderada por Luis Stuhlberger, “uma das principais razões para a sustentabilidade das margens recordes de lucro nos Estados Unidos é a globalização das cadeias produtivas, [e] a reversão disso não é estruturalmente positivo, pelo contrário.”

A Bolsa americana tem batido recordes históricos desde a vitória republicana: animados com a promessa de um corte generalizado de impostos, os investidores aceitam pagar mais pelas empresas.

Mas, se liberal à primeira vista, a política econômica de Trump tem pilares mais heterodoxos do que o mercado tem reconhecido.

Por exemplo, o presidente-eleito já disse que seu plano para manter os empregos nos EUA consiste, em parte, em conversar com cada empresa individualmente.

Durante uma entrevista com a revista TIME — que o elegeu ‘Homem do Ano’ com a alcunha de ‘Presidente dos Estados Divididos da América’ — Trump fez um pedido ao seu futuro chefe da Casa Civil: “Hey, Reince, eu quero uma lista das empresas que anunciaram que estão indo embora [dos EUA]. Eu posso ligar para elas eu mesmo.  Cinco minutos cada. Elas não vão partir. OK?”

As atitudes do presidente-eleito sugerem que o Governo Trump será similar ao Governo Dilma: em vez de acreditar nas forças de mercado, vai tentar influir nos preços no grito — ou na canetada.

O Verde também está preocupado com as consequências do dólar forte para a economia global nos próximos anos.

“A composição do Federal Reserve americano deve mudar ao longo dos próximos dois anos, no sentido de favorecer políticas monetárias sistematicamente mais apertadas. O mundo está preparado para o fim do QE [quantitative easing]? O Dólar é o grande ganhador deste processo … mas o que vai acontecer com países que precisam de financiamento em moeda forte? O custo do dinheiro está subindo no mundo e isso deve acelerar.”

Para a equipe do Verde, a alta simultânea dos juros e da Bolsa — uma combinação rara — sugere que o mercado está ficando leniente, e a assimetria entre risco e retorno, cada vez mais desfavorável ao investimento em ações.