As Organizações Globo compraram uma participação minoritária na Órama DTVM, uma plataforma de investimentos online.
 
A Órama comunicou o fato aos seus parceiros comerciais na tarde de hoje, sem divulgar o valor da transação ou a participação envolvida.
 
A transação marca a entrada dos irmãos Marinho no admirável mundo das fintechs — ainda que ninguém neste mercado tenha entendido as sinergias entre o maior grupo de mídia do País e uma plataforma que, se inicialmente inovadora, permanece relativamente pequena após cinco anos de história. Por enquanto, a interpretação de pessoas consultadas pelo Brazil Journal é de que se trata mais de um investimento pessoal dos irmãos do que algo que obedeça a uma lógica corporativa.
 
Não há indicação de que a Órama estivesse buscando capital.
 
Uma possível explicação seria uma troca de participação acionária por espaço publicitário no ecossistema da Globo, mas o marketing do qual plataformas como a Órama dependem para crescer é essencialmente digital (em plataformas como Google e Facebook), e não na TV, que historicamente entrega baixa eficácia.
 
“Fora a visibilidade que a Órama ganha, é difícil ver sinergias neste investimento,” diz o fundador de outra fintech. “Parece muito tímido para significar algo importante.”
 
Ontem, ao inaugurar um novo estúdio da Globo no Rio, Roberto Irineu Marinho mencionou a participação na Órama no contexto dos outros investimentos do grupo.

“Apenas nos últimos doze meses, começamos a construção de um novo estúdio de produção de novelas de concepção totalmente inovadora e que deve dobrar nossa capacidade de produção, inauguramos as novas instalações do jornal ‘O Globo’, adquirimos o controle do jornal ‘Valor’, investimos em serviços e plataformas digitais no Zap e na Órama, ampliamos o alcance do GloboPlay, nos associamos à Vice no Brasil e lançamos a Nova Rádio Globo, entre diversas outras iniciativas.”

 
Um empreendimento inovador quando foi fundada em agosto de 2011, a Órama foi a primeira plataforma de investimentos 100% digital do Brasil; a empresa sequer possuía uma equipe de vendas.
 
Seus sócios fundadores — Selmo Nissembaum e Guilherme Horn — haviam acabado de vender a Corretora Ágora para o Bradesco por R$ 800 milhões. Na época, o que atraiu o Bradesco foi outra inovação do time: a VIP Trade, plataforma de homebroker que explodiu dentro da Ágora, tornando-se a maior do Brasil.
 
A Órama foi a primeira a distribuir fundos de gestores independentes aceitando uma aplicação inicial abaixo do valor exigido pelos próprios fundos em aplicações diretas. Para isso, foi a primeira a usar o modelo de FICs (fundos de investimento em cotas), que recebem os recursos e os investem no fundo escolhido, cobrando do investidor uma taxa de 0,6% ao ano.
 
Este modelo permitiu que a Órama tivesse acessso a gestores que não estavam dispostos a pagar comissão pela captação — o ‘rebate’, no jargão do setor — mas também gerou debate sobre o custo-benefício para o investidor.  Como a taxa do FIC incide junto com as demais taxas dos fundos, muitos gestores acham que o investidor acaba pagando caro demais pela ausência de conflito de interesses.
 
A Órama fazia diligência nos fundos que colocava em sua prateleira e atribuía um ‘score’ para cada fundo usando um método proprietário.
 
De lá para cá, a Órama mudou substancialmente seu modelo de negócios: incluiu agentes autônomos, criou uma força de vendas e passou a trabalhar mais com os rebates.
 
Uma consulta à CVM mostra 17 fundos exclusivos que tem a Órama como gestora, com 7.500 cotistas e R$ 153 milhões sob gestão — incluindo recursos do controlador da empresa. A Órama, que trabalha com 46 gestores diferentes, também gera receita com outros produtos financeiros como CDBs, LCIs e LCAs e fundos nos quais se remunera por rebate, como boa parte da indústria.

Os Marinho e Nissembaum já fizeram pelo menos um negócio antes.  Há alguns anos, Selmo começou a construir um edifício comercial na Rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico; a ideia era de que o prédio abrigasse a sede da Órama. Quando a obra ficou pronta, a Globo fez uma proposta irrecusável para alugar o imóvel.  A Órama foi parar em outro endereço.