Alardeado por romper um marasmo de 17 meses sem estreias na Bovespa, o IPO da Alliar, empresa de medicina diagnóstica criada pelo Pátria, virou uma grande dor de cabeça.

Desde que chegaram à bolsa, no último dia 28, as ações acumulam queda de 20%, contra um recuo de 4% do Ibovespa.

O fracasso não demanda muito exame.  Em retrospecto, os vendedores forçaram a barra no preço da oferta para que a empresa fosse avaliada aos mesmos múltiplos do Fleury, e o papel saiu caro demais.

“Investidores bons ficaram de fora, pois acharam muito caro, mais caro que o Fleury, que é um negócio melhor”, diz o gestor de um grande fundo doméstico.

Nas apresentações aos investidores, a empresa vendeu o ‘valuation’ esticado sob o argumento de que a Alliar investe, sobretudo, em exames de imagem, que têm margens mais altas do que os exames laboratoriais.

Não convenceu. A avaliação preponderante era que a Alliar tem muito menos escala, uma marca menos consolidada que o Fleury, e ainda tem muito mais o que provar, com aquisições e integração de negócios.

A empresa foi criada pelo Pátria em 2011 a partir da fusão de quatro laboratórios em Belo Horizonte, Juiz de Fora, São José dos Campos e Campo Grande. De lá para cá, foram 19 aquisições. 

Em 2015, a Alliar faturou R$ 800 milhões, contra R$ 2 bilhões do Fleury.

A tese clássica de que o setor de saúde tem uma demanda secular, com o envelhecimento da população, até agradou os investidores, mas a maioria deles queria um desconto em relação à faixa indicativa de R$ 19 a R$ 22 por ação.

Os vendedores não baixaram guarda. Um investidor estrangeiro grande topou levar a R$ 20 e alinhou os demais compradores. A demanda potencial foi de 2,7 vezes o tamanho da oferta. Segundo um gestor, na faixa de R$ 18, poderia ter sido o dobro.

Consequência: na estreia, os papéis caíram 4% e, em dois dias de negociação, já eram cotados a R$ 18. Ontem, a ação completou nove pregões consecutivos de queda e fechou abaixo de R$16.

Com a derrocada das ações, o lote suplementar de 20% não saiu.

Quem ficou feliz na história foi o Kinea, braço de private equity do Itaú, que vendeu toda a participação de 7% que tinha na companhia, e embolsou R$ 123 milhões. Itaú BBA e Merrill Lynch coordenaram a oferta.

Dos R$ 674 milhões levantados pela oferta, R$ 395 milhões foram para o bolso dos acionistas: em sua maioria donos de laboratórios que receberam ações da Alliar ao vender suas empresas.

Os mais relevantes, no entanto, venderam apenas parte de seus papéis. Sérgio Tufik e Roberto Kail Issa, antigos donos do paulista CDB, comprado pela Alliar em 2014, reduziram a participação conjunta de 41% para 32%. A participação de Geraldo Mol, dono do mineiro Axial, saiu de 6,1% para 3,2%. 

O Pátria não vendeu. Pelo contrário, comprou quase R$ 70 milhões em ações para manter a participação em 25,4%.