No final do ano passado, com o País quase literalmente em chamas por causa da Lava Jato e a Operação Greenfield ainda fresca nas manchetes de jornal, a Eldorado Brasil Celulose — empresa controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista — fez uma operação tão discreta quanto peculiar: um empréstimo de R$ 24,5 milhões a seu CEO, José Carlos Grubisich.

Apesar da data exata da concessão do crédito não ser conhecida, o empréstimo tem prazo de aproximadamente um ano — vencerá em 31/12/2017 — e uma taxa jeitosa: 100% do CDI, bem abaixo do custo de captação da empresa em tempos normais. 

A Eldorado deu publicidade ao empréstimo numa nota explicativa enterrada em seu balanço de 2016. 

Na página 67 do relatório anual, o item ‘viii’ da Nota Explicativa 7 diz:  “Empréstimos ao Diretor Presidente a taxa 100% CDI, com vencimento em 31 de dezembro de 2017.”

No informativo do primeiro trimestre de 2017, os recursos do empréstimo são listados no Ativo Circulante sob a rubrica ‘Créditos com empresas ligadas’.  O valor, que era de R$ 24,5 milhões em dezembro, já está em R$ 26 milhões.

Como a nota explicativa não aparece nos formulários de informações trimestrais anteriores, conclui-se que a empresa fez a operação no quarto tri.

Os Batista têm 81% da Eldorado, enquanto os fundos de pensão Funcef e Petros participam com 8,5% cada como cotistas do FIP Florestal. A companhia também tem dívida emitida no mercado internacional.

A Eldorado foi alvo de busca e apreensão nas operações Sépsis e Greenfield, desdobramentos da Lava Jato.  A primeira fase da Greenfield foi deflagrada em setembro de 2016. A investigação apura desvios de R$ 8 bilhões nos fundos de pensão Funcef, Petros, Previ e Postalis. 

A Eldorado ainda não conseguiu publicar seu balanço do primeiro trimestre; os números divulgados até agora não foram revisados pelos auditores independentes.

As demonstrações financeiras de 2016 já não contaram com o aval integral do auditor. A KPMG deu um parecer ‘com ressalva’ — o que indica que há distorções consideradas relevantes nos números.

Entre 2012 e 2014, a companhia fez pagamentos de R$ 37,4 milhões a consultores externos “por conta e ordem da controladora J&F Investimentos”.  Estes pagamentos foram identificados por uma investigação independente contratada pela Eldorado depois da Operação Sépsis. Os auditores dizem, no entanto, que a companhia não conseguiu mostrar “documentação de suporte dos gastos e a evidência de que tais serviços foram efetivamente prestados.”

A Eldorado trocou a KPMG pela BDO no começo deste ano, tendo como justificativa a regra da CVM que estabelece um rodízio de auditores a cada cinco anos.

A companhia carrega cerca de R$ 9 bilhões em dívida bruta, R$ 7,9 bi em dívida líquida e fez um EBITDA de R$ 1,58 bilhão em 2016. Seu endividamento chega a 5 vezes a geração de caixa — acima do limite de 4 vezes constante na cláusula da sua segunda emissão de debêntures, de R$ 1,2 bilhão, totalmente subscrita pelo FI-FGTS, o que já a obrigou a negociar um ‘waiver’ em abril.

Grubisich, que antes de presidir a Eldorado foi CEO da Braskem e da Odebrecht Agroindustrial, tem tentado manter o semblante de normalidade.  Há dez dias, deu uma entrevista ao Valor sugerindo que a Eldorado está ‘blindada’ do escândalo, já que os Batista avocaram para si toda a culpa.

Procurada pelo Brazil Journal, a Eldorado disse que “esse é um contrato mútuo entre a companhia e o diretor presidente, aprovado formalmente e sem nenhum questionamento da auditoria em relação a ele. As taxas definidas estão de acordo com as utilizadas em operações semelhantes.”

 

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