A Cielo já foi considerada uma das empresas mais resilientes da Bolsa. Mas, com a economia em queda e, mais recentemente, riscos regulatórios, o papel perdeu o brilho.

Uma pesquisa encomendada pelo UBS e divulgada ontem sugere que a Cielo deve continuar perdendo participação de mercado, especialmente para as adquirentes ‘não tradicionais’, como PagSeguro, que tem uma proposta menor de preço.

O banco cortou a recomendação da ação para ‘venda’, puxando a fila dos mais pessimistas. Das 17 instituições que cobrem o papel, três recomendam compra e 13 são ‘neutros’. O preço-alvo foi reduzido de R$ 30 para R$ 28.  As ações da Cielo caíram 2,4% ontem e perdem mais 1,5% nesta terça.

Na pesquisa, conduzida entre janeiro e fevereiro com 505 pequenos comerciantes, a Cielo ainda aparece como a adquirente preferida, presente em 70% dos estabelecimentos. A preferência, no entanto, vem caindo ano a ano: era de 75% em 2015 e de 73% no ano passado.

Apesar da exclusividade no processamento das bandeiras ter acabado, parece que nem todos os varejistas sabem disso. 37% daqueles que usam a Cielo o fazem porque ela é quem ‘processa mais bandeiras’, e 80% disseram que trocariam de credenciadora se a concorrente pudesse processar todas as bandeiras.

Mesmo em meio à confusão, o tempo em que várias maquininhas dividiam o mesmo balcão no comércio está ficando para trás. Este ano, 64% dos entrevistados disseram que usavam apenas uma adquirente, contra 59% na pesquisa do ano passado.

Dentre os que usam mais de uma adquirente, 25% disseram que pretendem cortar uma delas nos próximos seis meses (contra uma taxa de 10% em 2016).

Neste cenário, a participação de players ‘não tradicionais’, como GetNet, Elavon e PagSeguro, vem crescendo na amostra: saiu de 22% em 2016 para 34% na pesquisa deste ano.  (Alguns varejistas usam mais de uma maquinininha. Por isso, juntando com a fatia da Cielo, a soma é superior a 100%).

“Os atributos de venda da Cielo ainda não estão claros para os comerciantes”, aponta a equipe do UBS. “Com o fim da exclusividade de cartões, a empresa terá que trabalhar uma outra fronteira.”

A abertura do mercado de cartões teve início em 2010, quando foi quebrado o monopólio de captura das bandeiras Visa (então exclusividade da VisaNet, que deu origem à Cielo) e Mastercard (que era exclusividade da Redecard, hoje Rede). 

As transações com outras bandeiras, no entanto, permaneceram fechadas. A Cielo era a única a capturar Amex e Elo, por exemplo, enquanto a Rede, do Itaú, tinha exclusividade na bandeira Hiper.

Isso mudou no ano passado, quando, por determinação do BC, todas as credenciadoras passaram a capturar as transações. (Em novembro, uma coalizão de sete associações de varejo fez uma queixa formal ao CADE sobre supostas práticas da Cielo para ‘fidelizar’ os lojistas apesar das mudanças) 

A meta do BC agora é a abertura total. Apesar de as maquininhas da concorrência capturarem as compras, no caso de Elo e Amex, o processamento da transação ainda é feito pela Cielo, e, no caso da Hiper, pela Rede. 

A ideia é chegar ao modelo de ‘full acquirer‘, em que o processamento pode ser feito por qualquer credenciadora — o que terá potencial de fato para reduzir não apenas o aluguel das máquinas, mas o valor cobrado do lojista por transação.

O BC quer que até o fim deste mês as adquirentes estejam aptas a iniciar a troca de informações técnicas e iniciar a integração. O cronograma estabelece que, até setembro, esteja funcionando um sistema de compensação e liquidação centralizado.