As Lojas Americanas — que estão analisando fazer uma proposta pela BR Distribuidora — já têm há pelo menos uma década um projeto-piloto que testa a venda de combustível com loja de conveniência.  A companhia é dona de um posto na Barra da Tijuca, dentro do qual mantem uma Americanas Express. (O Posto Vicom Ltda., da bandeira Shell, aparece no balanço da empresa.)

O investimento no posto foi feito numa época em que os supermercadistas — liderados pelo Carrefour e o Extra, do Grupo Pão de Açúcar — investiam no formato de hipermercados e viam o posto de gasolina como um atrativo para aumentar o tráfego na loja.  Na época, todos os grandes nomes do varejo embarcaram nessa ideia, que depois se mostrou com baixo potencial de retorno e foi abandonada.

O atual analista de varejo do Credit Suisse, Tobias Stingelin, chegou a analisar o negócio de postos de gasolina para a 3G Capital quando trabalhou lá.

Fontes do Brazil Journal ainda se lembram de Stingelin fazendo perguntas ao management do Pão de Açúcar, durante reuniões com analistas, sobre a rentabilidade do negócio de combustível.

Em tese, um sócio eficiente pode gerar valor na BR de inúmeras formas: criando uma nova estratégia para as lojas dentro dos postos, otimizando a gestão financeira e a alocação de capital.

Ganhos na logística de distribuição de combustíveis são mais difíceis, pois dependem essencialmente dos ‘depots’ (bases logísticas), terminais e do transporte de combustíveis em si, que usa uma frota de caminhões diferente da usada pelo varejo tradicional. A Ultrapar, por exemplo, só faz a logística de distribuição.  Ela não opera nem as lojas am/pm (que são franquias) nem os postos Ipiranga, que, assim como os postos da BR, pertencem e são operados por terceiros.

Há um motivo legal para isto (que também limita a capacidade das Americanas de aumentar a eficiência na operação dos postos): a lei brasileira impede as distribuidoras de combustível de operar os postos.  Elas podem até ser donas do imóvel, mas não podem operar. (A lei não se aplica às lojas de conveniência.)

Na época em que o Governo Fernando Henrique Cardoso flexibilizou o monopólio da Petrobras, o Governo separou a figura do distribuidor do revendedor (o dono do posto) como parte da definição das etapas da cadeia.  “O CNPJ de quem vai comprar e vender o combustível não pode estar vinculado a um acionista relevante de uma distribuidora,” explica uma fonte que conhece bem o setor.

A falta de sinergias deixa muita gente cética quanto ao interesse real das Americanas no negócio.  “Faria mais sentido a própria 3G olhar a BR, do ponto de vista de melhorar a operação, do que as Americanas, porque a diferença entre o varejo deles e o combustíveis é imensa.”

Além disso, a BR tem negócios — menos visíveis ao público — que nada têm a ver com a expertise das Americanas, como o business de combustível de aviação (que atende 80 aeroportos), e uma divisão B2B, pela qual a BR vende combustível para mineradoras, empresas de ônibus e outros clientes não-varejo.